Os Maias da nossa miséria
“A única coisa a fazer em Portugal (...) é plantar legumes, enquanto que não há uma revolução que faça subir à superfície alguns dos elementos originais, fortes, vivos, que isto ainda encerre lá no fundo. E se se vir então que não encerra nada, demitamo-nos logo voluntàriamente da nossa posição de país para que não temos elementos, passemos a ser uma fértil e estúpida província espanhola e plantemos mais legumes!
O velho escutava com melancolia estas palavras do neto, em que sentia como uma decomposição da vontade, e que lhe pareciam ser apenas a glorificação da sua inércia. Terminou por dizer:
- Pois então façam vocês essa revolução. Mas pelo amor de Deus, façam alguma coisa!”
(...)
“Clamamos por aí, em botequins e livros, «que o país é uma choldra». Mas que diabo! Porque é que não trabalhamos para o refundir, o refazer ao nosso gosto e pelo molde perfeito das nossas ideias?... Vossa Excelência não conhece este país, minha senhora. É admirável! É uma pouca de cera inerte de primeira qualidade. A questão está toda em quem a trabalha. Até aqui, a cera tem estado em mãos brutas, banais, toscas, reles rotineiras... É necessário pô-la em mãos de artistas, nas nossas. Vamos fazer disto um bijou!...”
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