quarta-feira, 18 de abril de 2007

KAZ UNDERWORLD

Continuando na banda-desenhada, o submundo criado por KAZ, sempre em formato comic-strip, é completamente alucinado, surrealista e transviado. Mas também é mordazmente actual e morbidamente político. Está tudo em KAZ UNDERWORLD. Aqui fica a visão do autor sobre o aquecimento global.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Chris Ware e Seth em Londres



Livros não são só letras e todos os livros é uma expressão que também tem de compreender o maravilhoso mundo da banda-desenhada. Neste último fim de semana de Páscoa tive a felicidade de passar 3 dias em Londres, uma excelente cidade para abrir a cabeça e o espírito e deixar entrar coisas novas. Um dos espaços que tive o prazer de visitar pela primeira vez foi a Tate Modern. Um edifício poderoso e arrebatador, uma colecção de arte impressionante, uma exposição retrospectiva de Gilbert & George, os revolucionários mais conservadores da arte contemporânea, e vários escorregas gigantes que transportam adultos para o vibrante mundo das crianças. Isto sim é um museu. A loja é um perigo para a carteira e eu não fui excepção à regra. Andava eu à procura de livros sobre arte, design e comunicação, no enquadramento do museu e da minha vida profissional, quando me deparei com uma secção de banda-desenhada que não me deixou passar incólume. Ao rolar os olhos pelas lombadas os meus dedos encontraram duas preciosas novidades de dois dos mais geniais cartoonistas americanos da actualidade: Chris Ware e Seth.

O primeiro é o autor da série Acme Novelty Library, que já vai no volume 17 (precisamente o que comprei), que apesar de ser um projecto épico, tem todos os contornos de um intimismo sonhador (nos desenhos) e arrepiante (nas histórias). Se tivermos em conta que Ware tem por objectivo levar a sua biblioteca da imaginação até ao nº52 e que até à data é raro existir uma edição semelhante à anterior - há volumes menores que A5 e outros que chegam quase ao A2, sempre com um cuidado editorial muito apurado e que chegam invariavelmente à perfeição -, a Acme Novelty Library foi, é e continuará a ser uma das obras-primas da banda-desenhada dos séculos XX e XXI. O 17º obriga à aquisição de tudo o que está para trás e de tudo o que está para vir. Não única e exclusivamente pela continuidade da(s) história(s), mas simplesmente porque é obrigatório ler, reler e ficar fascinado. Até porque mais do que ilustrador e contador de histórias, Chris Ware é um artista gráfico na verdadeira e mais completa acepção da palavra.

Quanto ao segundo autor, Seth, que por acaso (ou não, se atentarmos ao universo gráfico que ambos os artistas abraçam) é amigo pessoal de Ware, desde que comprei há uns anos a obra de arte que é “It’s a Good Life If You Don’t Weaken”, a história de um homem obcecado por um ilustrador desconhecido e desaparecido, que ando também eu obcecado por mais livros do autor de Palookaville. Uma série que, tal como a Acme Novelty Library, promete ficar nos anais da mais inspirada banda-desenhada da contemporaneidade. Uma banda-desenhada sem super-heróis, nem sequer com heróis, que aborda a vida quotidiana como ela é: colorida e a preto-e-branco; com alegrias e tristezas; com uma verosimilhança tal que nem sequer percebemos se estamos no universo encantado dos cartoons, ou no universo (des)encantado da realidade. Ora ao lado da lombada que me obrigou à compra do livro de Chris Ware, na livraria da Tate Modern em Londres, estava precisamente a mais recente obra de Seth, “Wimbledon Green”, que conta a história do maior coleccionador de comics do mundo. Quem é Wimbledon Green? De onde veio e para onde vai? O que pensam e dizem dele os outros coleccionadores (todos eles doentios) de comics antigos? Wimbledon Green é uma personagem cativante e repulsiva ao mesmo tempo (não são assim todas as grandes personagens?), numa história contada e desenhada à maneira dos melhores filmes negros, com um forte sabor a documentário, mas pura ficção brilhantemente imaginada por um autor que ele próprio vive imerso no universo do “old-fashion storytelling”.

Por tudo isto, parabéns à Tate Modern. Por ser um exemplo acabado de que um museu pode ser um espaço para as elites e para as massas, para miúdos e graúdos, para as belas-artes e para as artes populares. Para todos os livros em geral e para a banda-desenhada em particular. E não é a banda-desenhada a nona arte? Com génios como Chris Ware e Seth é com certeza.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Carta aberta a António Lobo Antunes


Meu caro António Lobo Antunes. Antes de mais, muitos parabéns pelo Prémio Camões. Tenho a certeza que o prémio não lhe foi atribuído por politiquices nem por conveniências. Estou mesmo certo que o louvor lhe é inteiramente devido, não só pelo extenso trabalho literário que tem vindo a produzir desde há quase 30 anos, mas também pelo brilhantismo de que se reveste a sua técnica literária, provavelmente demasiado avançada para o nosso tempo. Estou mesmo convicto que muitos dos seus livros, nomeadamente os mais recentes, e os que são (naturalmente) mais do seu agrado pessoal, só serão devidamente compreendidos daqui por alguns anos. Pelo menos estou em crer que é isso que vai acontecer comigo.

O António Lobo Antunes foi um dos autores que me despertou para a genialidade da nossa literatura à beira mar plantada. “Manual dos Inquisidores” está mesmo na minha lista de favoritos pessoais, onde cada capítulo é narrado por uma personagem, que pode ser principal e completamente central ao fluxo da história, ou completamente secundária, ao ponto de tocar apenas nas franjas da narrativa. E a cada capítulo somos confrontados com a aventura de descobrir quem está a falar (ou escrever, dependendo do ponto de vista) e qual é a sua relação maior ou menor com o todo. Tudo isto no contexto de uma família aristocrática durante o Estado Novo torna esta aventura literária ainda mais fascinante (um dia destes vou ter mesmo de reler este livro). Um poder que se sente na sua própria afirmação ao Jornal de Letras em 1996, “não acho o livro magoado. Posso achá-lo violento e cruel, terno, mas magoado não. Houve alturas em que senti que a coisa me sentia como a «Cavalgada das Valquírias», no «Apocalipse Now»”.

Contudo, e porque na vida há sempre um mas, tal como me fascina o “Manual dos Inquisidores!”, também me perco completamente nos seus escritos mais recentes e confesso mesmo que não fui além de “Não Entres tão Depressa Nessa Noite Escura”. E neste caso particular não passei mesmo das 100 páginas. Confesso que fico irritado quando não percebo aquilo que estou a ler. Quem está a falar. O que se está a tratar. Provavelmente sou eu que sou iletrado e incapaz de penetrar a (cada vez maior) complexidade dos seus escritos. Ou provavelmente estes são daqueles livros que precisam de anos para amadurecer no palato dos leitores, como os bons vinhos.

De uma coisa eu tenho a certeza: eu sou daqueles leitores que adora observar e absorver a técnica (e a sua é grande), mas também sou dos que precisa de uma história, ou um fio condutor que seja, ao qual me possa agarrar. Por isso, meu caro António Lobo Antunes, para esta história ficam os meus parabéns ao seu Prémio Camões, quem sabe a antecâmara de um Nobel já há algum tempo anunciado - mas aviso-o, e você já deve saber melhor que ninguém, que este prémio gosta mais de escritores engajados politicamente do que de escritores engajados literariamente, que creio ser o seu caso.

Quanto a este humilde leitor, fica a promessa de que um dia destes volto a tentar ler as suas últimas obras. Só não prometo que vou perceber ou gostar. Mas se o António Lobo Antunes se explicar um bocadinho melhor talvez eu chegue lá.

Feira do Livro Manuseado na Assirio & Alvim

É uma grande editora na forma e nos conteúdos. É mesmo ali ao pé de minha casa. Está mesmo ao lado de uma sex shop (sexo e cultura, o que mais se pode pedir?...). E tem uma feira do livro manuseado até ao próximo dia 28 de Abril. É a livraria da editora Assírio & Alvim e eu já lá dei um salto. Por uns míseros 30 euros investi em 4 livros em excelente estado, pelo menos para livros manuseados: "Poesia" de Ricardo Reis, "Trabalho Poético" de Carlos de Oliveira, "Pena Capital" de Mário Cesariny, e "Livro de Memórias" de Teixeira de Pascoaes. E o que lá deixei vai obrigar com certeza a um segundo salto. A menos que vão lá todos também, para se cultivarem a preços baixos e também para me impedirem de perder a cabeça e a carteira.

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