domingo, 22 de julho de 2007

Os Maias arebatadores


“Carlos via-a assim tremer, via-a toda pálida... E nem a escutara, nem a compreendera. Sentia apenas, num deslumbramento, que o amor comprimido até aí no seu coração irrompera por fim, triunfante, e embatendo no coração dela, através do aparente mármore do seu peito, fizera de lá ressaltar uma chama igual... Só via que ela tremia, só via que ela o amava... E, com a gravidade forte de um acto de tomada de posse, tomou-lhe lentamente as mãos, que ela lhe abandonou submissa de repente, já sem força, e vencida. E beijava-lhe ora uma, ora outra, e as palmas, e os dedos, devagar, murmurando apenas:
- Meu amor! Meu amor! Meu amor!”

(...)

Carlos voltou-se, ferido no coração. Com o seu vestido escuro, para ali caída e abandonada, parecia já uma pobre criatura arremessada para fora de todo o lar, sózinha a um canto, entre a inclemência do mundo. Então respeitos humanos, orgulho, dignidade doméstica, tudo nele foi levado como por um grande vento de piedade, Viu só, ofuscando todas as fragilidades, a sua beleza, a sua dor, a sua alma ublimemente amante. Um delírio generoso, de grandiosa bondade, misturou-se à sua paixão. E, debruçando-se, disse-lhe baixo, com os braços abertos:
- Maria, queres casar comigo?”

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