quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Histórias soltas do Sr. Luís #3

Luíz Pacheco
“Conheço o Luis Pacheco há muitos anos, desde os anos 40-50. Ele andava pelas livrarias e cada vez que encontrava amigos e livreiros pedia sempre emprestados 25 tostões, que na altura era algum dinheiro. Emprestado que era sempre dado... Quando o nível de vida começou a subir, ele passou a pedir uma vintena. E desde então, a vintena passou a ser imagem de marca do Luíz Pacheco”.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Histórias soltas do Sr. Luís #2

António Botto e António Eça de Queirós
"No início dos anos 50, o António Botto concorreu a um concurso do Secretariado de Propaganda Nacional, que na altura já era dirigido pelo António Eça de Queirós. Pelo que consta, o júri atribuiu o primeiro prémio ao poeta, mas o António Eça de Queirós vetou a decisão por razões pessoais. O António Botto soube por portas travessas e ficou com asco àquele dirigente. Entretanto, o António Botto soube que a mulher do António Eça de Queirós tinha pedido o divórcio, e como tinha amigos no Tribunal da Boa Hora, foi ver o processo e descobriu que o motivo era sexual. Para se vingar da desfeita do prémio, o poeta escreveu um poema sobre os motivos do divórcio e distribuiu-o amiúde. Naturalmente, o António Eça de Queirós ficou furioso e começou a procurar o António Botto por todo o lado. Veio muitas vezes à Lello, cuja tertúlia o poeta costumava frequentar, e acabou um dia por encontrá-lo. Nesse dia eu estava lá, e estavam também o Aquilino, o Ferreira de Castro, o Villaret e o António Silva, entre outros. Imediatamente o Queirós e o Botto pegaram-se à pancada e ainda andámos todos um bom bocado envolvidos a ver se os separávamos".

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Histórias soltas do Sr. Luís #1

António Ferro
"Nos anos 40, o António Ferro, que era um homem culto e muito divertido, e até se dava com vários tipos que eram da oposição, ia várias vezes à tertúlia da Lello. Uma vez eu atendi-o ao balcão. Ele puxou da carteira para pagar, mas tirou também a cigarreira, que era um estojo lindíssimo. Perante o meu olhar espantado, ele virou-se para mim e disse: “Gostas Luís? Isto... é o Estado Novo!”.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ler com o Sr. Luís #4

SER LIVREIRO HOJE

O que é que mudou na actividade de livreiro desde que começou até agora?

Houve grandes modificações com a televisão, a multimedia... Mas eu continuo a acreditar na livraria, porque apesar das tecnologias, e talvez se vendam menos livros, a livraria há de continuar a ser sempre livraria. Ouvir a gravação de um livro, ou ler num computador é totalmente diferente do contacto com o papel. O que dá prazer é manusear o livro. Pô-lo na prateleira e relê-lo daí a um mês ou um ano. Esta é a minha maneira de ver as coisas e é possível que eu esteja errado. Além disso, há a especialização. Com as grandes superfícies e toda a concorrência que há, as livrarias têm cada vez mais a tendência para se especializarem em determinadas áreas.

Falando da actualidade, também é da opinião que os portugueses lêem cada vez menos?
Não. Eu acho que lêem mais. Este ano foi melhor que o ano passado e assim sucessivamente.

Mas isso deve-se também a alguns fenómenos tipo Paulo Coelho...
... o Paulo Coelho, o Saramago, o Lobo Antunes...

Mas acha que as pessoas compram livros para pôr na prateleira, ou para ler?
Eu acredito que é metade/metade. Eu continuo a dizer que nós temos uns clássicos muito bons que continuam a ser esquecidos pelos editores, porque o editor quer o lucro imediato. A Imprensa Nacional Casa da Moeda devia pegar nesses clássicos portugueses e editá-los todos, porque são necessários. Com prefácios e estudos dos livros.

Como por exemplo?
O Camilo e outros grandes escritores: o Garrett... O Camilo está praticamente reduzido a 4 ou 5 livros. Não entra no mercado. E do Eça só saiu muita coisa porque o ano passado foi o centenário.

Continua a ser-lhe possível viver dos livros economicamente?
Sim, felizmente. Desde que aqui estou há 30 anos.

Isso também terá a ver com uma certa fidelização que conseguiu dos leitores, pelo menos os de Campo de Ourique?
Sim. Não há dúvida. Um dia que me sinta cansado, velho, caduco, terei que me afastar. Há de chegar a altura. Mas por enquanto ainda me sinto uma pessoa válida.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ler com o Sr. Luís #3

LER EM DEMOCRACIA

Entretanto dá-se o 25 de Abril...

... E é aí que começo a editar a colecção Cadernos Maria da Fonte, onde editei mais de 30 livros.

Teve alguma actividade política durante o PREC?
Não tive envolvimento com nenhum partido, nem antes, nem depois do 25 de Abril. Só fiz parte das eleições do Humberto Delgado. É verdade que passaram por cá todos os partidos depois do 25 de Abril: o MDP/CDE, onde o meu grande amigo Padre Felicidade Alves era um dos presidentes. O PS, o PSD, o CDS, e essas coisas todas. Eu nunca me filiei em nenhum partido, mas não houve nenhum ano em que não fosse votar. Sou democrata 100%, mas como tinha uma casa comercial, não queria estar conotado com nenhum partido. Mas não há dúvida que eu fui conotado com o PCP a seguir ao 25 de Abril.

Teve alguns problemas políticos?
Não. Não tive nenhum problema.

Mas chegou a editar livros por exemplo do Varela Gomes...
Sim, é verdade... Quando se deu o 25 de Abril eu enchi as montras com os autos de apreensão. Fiz as contas e tinha mais de 400 contos em livros apreendidos, o que era muito dinheiro. Uma noite, ouvi umas pessoas a comentarem os autos: “eu não te disse que o sr. Luís era comunista?”. Fui conotado e editei várias coisas de tipos que eram da oposição, entre elas o Varela Gomes. Depois editei vários livros do Lenine, do Estaline. Era o que se vendia naquela altura. Cheguei a vender 50.000 exemplares do livro “48 Anos de Fascismo”, em 4 ou 5 meses. O “Tornar-se Pessoas Livres”, do Padre Felicidade Alves, que era ele próprio que editava, vendi 25.000. A seguir ao 25 de Abril apareceu tudo o que estava proibido. Foi a altura em que se vendeu mais livros.

Quanto tempo durou esse período?
Durante 75, 76... Princípios de 77.

Quando é que deixou de editar? E porquê?
Já nos anos 80, o meu filho acabou o curso e veio trabalhar comigo durante dois anos. Mas eu achava que isto não era vida para ele. Entretanto, o Guilherme Valente veio-me convidar para sócio da Gradiva. Eu não aceitei, porque tenho uma concepção de livreiro muito minha, e quantos mais sócios, mais ideias... Mas sugeri o meu filho e a minha proposta foi aceite. A partir desse momento, se me aparecesse alguém com uma proposta, eu encaminhava-o para a Gradiva. Além disso, esta minha opção também teve a ver com o facto de eu preferir a actividade de livreiro à de editor. Uma editora consome muito tempo e eu prefiro estar no meio dos livros.

Ainda tem à venda os livros que editou?
Um ou outro. O resto está tudo esgotado.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Aprender a Rezar na Era da Técnica com Gonçalo M. Tavares

Tenho amigos que desdenham por completo o trabalho de Gonçalo M. Tavares. Tenho outros, a larga maioria, que ainda não se deu ao trabalho de ler o homem. Acredito que a sua produção avassaladora assuste muita gente e provoque até para algum desdém face a um trabalho de escrita hercúleo em pouco mais de 5 anos. Eu próprio confesso que desconfiei do excesso, mas desde o início dei o benefício da dúvida, não só porque fazer tanto barulho por nada parecia-me inusitado, mas sobretudo porque a forma conceptual como Gonçalo M. Tavares aborda a sua obra deixou-me extremamente curioso.

Já andei pelos Bairros e por alguns contos e livros de apontamentos, onde encontrei frases e dizeres que com certeza um dia irão figurar em compilações de citações, mas sem nunca ficar saciado na medida que me importa. A leitura é profunda, sempre de um universalismo impressionante (idêntico ao que faz de Saramago um escritor português que facilmente chega ao mundo inteiro), mas parece-lhe faltar um fôlego de fundo, daqueles que nos afunda noites seguidas num livro.

É por isso que a série que mais me entusiasma literariamente em Gonçalo M. Tavares é o Reino – para os menos atentos, aquela série dos livros de capa negra editados pela Caminho e de onde saiu o livro mais aclamado do autor, “Jerusalém”. É nesta série, na minha opinião, que Gonçalo M. Tavares melhora explora o seu enorme potencial literário, com temas que nos tocam a todos e a todo o mundo – o hedonismo, a avareza, a vingança, a ambição, a maldade, a depravação, a loucura, a crueldade... - mas abordados de uma forma muito individualizada, que na maioria das vezes se concentra de forma obsessiva na personagem central do livro. Neste sentido são livros muitos kafkianos, que nos prendem sem sabermos muito bem porquê, mas simplesmente porque tem de ser.

A mais recente edição do Reino, “Aprender a Rezar na Era da Técnica”, continua a senda negra do Reino (não obriga à leitura dos 3 tomos anteriores, mas o conjunto simboliza algo maior). É a história de um homem desmesuradamente ambicioso que um dia decide mudar da medicina para a politica, disciplinas aqui assustadoramente similares. Um homem supostamente respeitado mas cuja vida privada esconde depravações profundas. Um homem que vive à sombra da herança emocional de um pai ditador, mas que precisamente por isso ele o ama ainda mais. Um homem que vê o mal que semeou virar-se contra si. Um homem que começa como acabou: mal. À partida o enredo não parece ter nada de extraordinário, mas somos impelidos, de forma sôfrega, a caminhar até ao fim, a viver a miséria daquele homem, a julgá-lo, a crucificá-lo, a sermos ele.

“Aprender a Rezar na Era da Técnica” oferece-nos uma leitura fácil (e isto não é uma critica), mas sobre temas profundamente reais e actuais, e uma escrita demolidoramente simples, mecânica até, no sentido em que tudo faz sentido e tem um sentido. Às vezes até demasiado sentido. Se calhar é por isso que sinto faltar-lhe alguma alma, se calhar a alma lusitana que estamos habituados a ler em Eça ou Camilo. Mas é precisamente esta falta de alma e excesso de conceptualização que torna a escrita de Gonçalo M. Tavares original e que a está a levar além fronteiras.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Ler com o Sr. Luís #2

LER EM DITADURA

É então que começa a editar livros?

Quando vim para cá comecei a fazer distribuições de pessoas amigas, em geral autores proibidos como o Padre Felicidade Alves, o Raúl Rego... Entre as editoras contava-se a Raíz de Tomar, que já faliu e que só editava livros proibidos. Foi aí que começou a perseguição da PIDE. Sabia que eu era o distribuidor da Raíz, que recebia livros brasileiros proibidos...

Como é que fugia à PIDE?
Fazíamos, por exemplo, 5000 exemplares e a tipografia passáva-nos uma factura de 1500. Sobre esses 1500 é que nós facturávamos a todas as livrarias. Ficavam 3500 para vender pela porta do cavalo, como se costumava dizer. Era isso que nos salvava. Dos 1500 eram apreendidos, se calhar, uns 700 ou 800. Isto porque as apreensões vinham 3 ou 4 dias depois de estarem os livros nas livrarias. Deu-se um caso muito engraçado com o livro “Citações do Presidente Mao Tse-Tung”, que editei em 1972 ou 1973. No tempo do Marcelo, veio uma circular da censura, em que este livro deixava de ser proibido. Eu tinha o livro do Mao Tse-Tung debaixo da mesa, que já vinha da China traduzido para português. Fui à tipografia e pedi para me fazerem 5000 exemplares, visto que estava autorizado. Só que quando o livro estava pronto para entrega, apareceu lá uma brigada da PIDE, que apreendeu os livros, mas não os levou logo. Avisaram-me da tipografia e eu peguei na circular e fui à sede da PIDE, na António Maria Cardoso. Apresentei-me e apresentei o caso. Eles admitiram que tinham apreendido os livros e eu mostrei a circular da censura. Eles tiveram que dar o braço a torcer e dar ordem à tipografia para me entregar os livros.

Foi essa a única vez que foi à PIDE?
Não. Fui chamado à PIDE 3 vezes. Porque editei 3 livros antes do 25 de Abril, na colecção Cadernos Maria da Fonte, que foram proibidos: “Sobre a Repressão” (Victor Serge), “Sobre a Emancipação da Mulher” (Marx, Engels, Lenine e Kollontai) e “Citações do Presidente Mao Tse-Tung”.

O que é que se passou dessas vezes que foi chamado à PIDE?
Trataram-me bem. Só me disseram que eu deixasse de editar livros deste género, senão viam-se obrigados a fechar-me a livraria. Mas não me bateram. É claro que me fizeram estar à espera uma data de tempo. Perdi lá dias inteiros. Era a filosofia deles. Mas ameaçaram-me e a livraria foi fechada mais do que uma vez para passarem vistoria aos livros.

Tinha uma zona escondida na livraria?
Sim, no andar de baixo. Antes de ter sido pronto-a-vestir, este espaço foi uma drogaria, e tinha lá em baixo uma casa-forte. O meu cunhado fez-me uma separação com prateleiras, atrás das quais tinha as coisas escondidas.

Descobriram-lhe alguma vez o segredo?
Não. Nunca descobriram. Mas eu comecei a ter medo e houve uma vez que quase descobriram. Tiraram os livros todos das prateleiras para ver se estava alguma coisa atrás, mas não deram por nada e lá me safei. Mas com receio, aluguei um mini-armazém também aqui em Campo de Ourique, ali onde está a Presidência do Conselho de Ministros, e pus lá os livros proibidos. Para despistar, o armazém foi alugado em nome de Luís Alves Dias e não em nome da Livraria Ler. Assim estava mais seguro.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Ler com o Sr. Luís #1

Luís Alves Dias é um livreiro com uma vida que dava um livro. É também o proprietário, desde 1970, da Livraria Ler, que fica em Campo de Ourique, na Rua Almeida e Sousa, junto ao Jardim da Parada. Para além de conhecer o bairro desde pequeno, tive o prazer de viver nele durante 7 anos, 3 dos quais precisamente no prédio da Livraria Ler. Durante estes 7 anos privei inúmeras vezes com o Sr. Luís, que para além de se ter tornado o meu livreiro particular, acho que posso afirmar se tornou também num bom amigo e num excelente contador de excelentes histórias literárias.

Há alguns anos gravei uma longa conversa com o Sr. Luís, onde se conta a sua história de vida dedicada aos livros e algumas histórias vividas com personagens literárias da nossa praça. Parece-me ser agora oportuno publicar aqui a nossa conversa, talvez porque há 3 anos deixei Campo de Ourique por outro bairro lisboeta e recentemente revisitei o Sr. Luís, o que já não fazia há muito tempo. A nostalgia tem destas coisas.

Mas porque as nossas conversas eram de facto longas, sentidas e repartidas, esta vai surgir aqui em vários capítulos ao longo dos próximos dias. Espero que gostem e que se sintam motivados a visitar o Sr. Luís e a sua Livraria Ler. Porque já não se fazem livrarias e livreiros assim.

OS PRIMEIROS CAPÍTULOS

Desde 1970 à frente da Livraria Ler, em Campo de Ourique, Luís Alves Dias é um livreiro com 69 anos de vida dedicada aos livros, a quem a iliteracia portuguesa não apaga a esperança no futuro. É que a magia das letras não está só em quem as escreve e em quem as lê. Está também em quem as sabe vender.

Quando e como é que entrou no mundo dos livros?
Aos 13 anos. Eu nasci na Galiza a 18/2/1932, filho de pai português e mãe galega, mas sou português, porque o meu pai registou-me logo no consulado. Vim definitivamente para Portugal quando começou a guerra civil espanhola e o meu pai meteu-me no Instituto Espanhol, ali ao Marquês do Pombal, onde tirei da 4ª classe ao 2º ano. Como os meus pais não pensavam em regressar a Espanha, acabei por mudar para uma escola portuguesa, onde tive de refazer a 3ª e a 4ª classe em português, porque não me davam equivalência para entrar no liceu. Mas como já tinha 13 anos, não podia ir à escola de dia. Tinha de ir à noite. E assim foi. Como não fazia nada de dia, ia ali para a Livraria Aillaud & Lello, na Rua do Carmo, ler umas revistas brasileiras do Super-Homem e do Homem Borracha. Até que um dia o gerente, o Artur Grana, me perguntou se eu não estudava. Eu contei-lhe a minha odisseia e ele ofereceu-me trabalho na Lello, que eu aceitei, depois do aval do meu pai.

O seu pai também estava ligado aos livros?
Não. O meu pai era GNR.

Quanto é que começou a ganhar na Lello?
Fui ganhar 300 escudos por mês. Naquela altura era muito dinheiro. Entretanto fiz a 3ª e a 4ª classe num ano e o meu pai disse-me então que eu tinha de deixar de trabalhar para ir estudar para a escola comercial. Como os patrões gostavam de mim, tentaram convencer o meu pai, que não se demoveu. Como aquele dinheiro me dava muito jeito, porque eu já fumava, comprometi-me com o meu pai a continuar a trabalhar de dia e a fazer o curso comercial de noite. Se não conseguisse superar as dificuldades, deixaria de trabalhar no ano seguinte. Os estudos correram bem e eu continuei na Lello. Foi por esse motivo que comecei a trabalhar muito cedo.

Esteve muito tempo na Lello?
Ainda estive uns 15 anos, durante os quais me casei e nasceram primeiro o Luís Manuel e depois a São.

Casou-se quando?
Casei-me em 1957. Mas antes disso ainda fui à tropa. Estive na Índia 2 anos.

Esteve na Índia até ao fim?
Não, vim antes. Regressei a Lisboa no dia 14 de Dezembro de 1954.

Já tinha a noção de que a Índia estava perdida?
Aquilo estava mais que perdido. Quando lá chegámos já não havia praticamente nada. Quando regressei consegui voltar para a Lello, porque naquela altura os patrões tinham que guardar o emprego a quem fosse para a vida militar. Era da lei.

Voltando então à Lello...
Foi na Lello que tive mais contacto com escritores, pintores, artistas de cinema e teatro. Foi a minha faculdade da vida. Conheci o Manuel Campos Pereira, o Soeiro Pereira Gomes, o velho Torga, o Alves Redol... Esses grandes escritores. Nessa altura havia uma tertúlia fabulosa, que juntava entre 20 a 25 pessoas, desde economistas, a professores, pintores, escritores, artistas de teatro... o António Silva, o Villaret. Os grandes artistas da época passavam por lá. Nós até tínhamos uma pequena tertúlia de vários livreiros, e de vários amigos que trabalhavam ali na Baixa, no Café Martinho, que era em frente à Estação do Rossio. Passavam por lá rapazes que trabalhavam na Rodrigues, na Parceria António Maria Pereira, na Livraria Portugal.

Mas acabou por sair da Lello.
Quando nasceu a minha filha foi a primeira vez que pedi aumento ao patrão. As despesas eram maiores. Tenho que dizer que o José Lello era muito meu amigo e tratou-me sempre muito bem. Mas naquele dia acordou mal disposto e quando eu o abordei ele respondeu: “não fui eu que te mandei fazer a filha”. Eu não disse nada, mas fiquei sentido. Naquele dia, como saí mais cedo, passei pela Livraria do Diário de Notícias, ali no Rossio. Quando estava a olhar a montra, o Lúcio Pereira, gerente da livraria, abordou-me e eu contei-lhe o que se tinha passado. O extraordinário é que ele acabou por me convidar para ir para a livraria do Diário de Notícias, com condições muito melhores. Eu estava a ganhar nessa altura 1800$00 na Lello, e ia passar a ganhar 2200$00, mais 150$00 por fazer a montra. Estes eram uma gratificação que o Diário de Notícias dava.

Estávamos em que ano?
Acho que estávamos no mês de Agosto de 1959, e eu fiquei de entrar ao serviço no dia 1 de Outubro. A única condição foi eu não dizer na Lello para onde ia, porque o José Lello era muito amigo dos administradores do Diário de Notícias. Uns dias depois anunciei a minha saída, dizendo que ia para um escritório na Av. Da Liberdade. O José Lello pediu-me 3 ou 4 meses, mas eu só tinha um mês. Como tal, disse-lhe que se ele quisesse que me metesse em tribunal, ou que me pedisse uma indeminização. É escusado dizer que ele ficou aborrecido, mas não fez nada. E comecei entretanto a trabalhar na Diário de Notícias.

Quais eram as suas tarefas?
Empregado de balcão. Com o Zé Lapas e o Cortes. Contudo, em Novembro, o José Lello convidou-me para ir novamente para a Lello. As condições que ele me dava eram muito boas, mas como eu tinha prometido ao Lúcio Pereira que não saía do Diário de Notícias durante 5 anos, não aceitei. A coisa ficou por aqui. Mas passados 3 ou 4 dias, o José Lello veio falar outra vez comigo, para ver se eu podia dar uma ajuda na Lello da parte da tarde, visto que à tarde eu não tinha trabalho no Diário de Notícias. Depois de pedir autorização ao Lúcio Pereira e à administração do D.N. voltei a trabalhar na Lello, mas só à tarde. Estive nessa situação durante 3 anos. O meu grande espanto foi quando me foi pago o primeiro mês de ordenado na Lello, o mesmo que eu estava a ganhar antes de sair: 1800$00. O que para mim foi esplêndido.

Quanto tempo esteve na Diário de Notícias?
Estive 5 anos. Depois, o Álvaro Gonçalves Pereira veio convidar-me para eu abrir o Centro do Livro Brasileiro, na Rua Rodrigues Sampaio, ali ao pé do Tivoli. Eu expus as minhas condições, que para a época eram muito boas. Ele aceitou e eu fui contar ao Lúcio Pereira, que me libertou.

Estamos em plenos anos 60?
Em 1963. Estive 7 anos no Centro do Livro Brasileiro, de onde saí em 1970.

O que fazia no Centro do Livro Brasileiro?
Estava ao balcão, dirigia os outros empregados de balcão e do armazém, e fazia os pedidos dos livros necessários ao Brasil. Passado 1 ou 2 anos, o Álvaro Gonçalves Pereira meteu o genro como sócio, o Joel de Matos, e começou a haver uma fricção entre mim e ele. Chegou uma altura em que eu já não podia aturar aquilo. Entretanto, um senhor que tinha um cabeleireiro em Campo de Ourique indicou-me uma casa que estava para passar na esquina da Rua 4 de Infantaria com a Rua Almeida e Sousa. Como eu já estava a pensar em ter a minha livraria e como já morava em Campo de Ourique, fui ver o espaço. Pediram-me 180 contos de trespasse naquela altura e não hesitei. Fiz a escritura em Outubro de 1969, mas como o Álvaro Gonçalves Pereira pediu-me para fazer o balanço antes de me ir embora, só abri a Livraria Ler em Fevereiro de 1970.

(continua)

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Pacheco foi com os porcos


O Luíz Pacheco é um daqueles escritores que é membro permanente da instituição literária que é a minha mesa de cabeceira, porque quando preciso dar um coice no espírito volto sempre a ele. Foi lá parar (à minha mesa de cabeceira) desde que o Sr. Luís da Livraria Ler, em Campo de Ourique ao Jardim da Parada, de quem posso dizer com todo o orgulho do mundo ser amigo, mo deu a conhecer através de duas pérolas que ele próprio editou, os Textos de Guerrilha.

Desses livros às histórias que o Sr. Luís me contou sobre o homem e às histórias surreais mais realistas que o homem imprimiu em todos os tipos de papéis foi um pequeno passo para uma grande paixão literária. Porque ninguém escreveu como o Pacheco: dos amores punheteiros ao escárnio e maldizer; das notas de 20 escudos aos 1001 livros que publicou e ajudou a publicar; do eruditismo popular ao libertinismo regrado; da cama aberta a todos ao maior cosmopolitismo vivido durante o Estado Novo; da total exposição da vida privada a uma vida privada de tudo e mais alguma coisa; da morte anunciada há anos e anos a toda uma vida que dura e dura; da miopia mais curta de vistas às vistas mais largas deste nosso Portugal; pela elegância com que se consegue dizer os palavrões mais orelhudos.

Por tudo isto, dizer que o Pacheco foi com os porcos é a melhor homenagem que posso prestar a um conterrâneo lisboeta e ex-vivente deste bairro da Estefânia que agora me abriga. E já agora obrigadinho em nome da língua portuguesa.

Grupo Leya?

Pergunto eu: o que é que Leya tem a ver com português? É caso para dizer: fonix. Ou será phone-ix?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Atenção: fumar aumenta os índices de literacia.

Os Malefícios do Tabaco” segundo Nuno Brederode Santos, ou “2008: o Ano do Terror” segundo Miguel Sousa Tavares?

Como ex-fumador de longa data e vivente com uma ex-fumadora de recente data, para mim a acesa questão do tabaco devia ser apenas uma questão de civismo e não de legislação paternalista. Ninguém quer obrigar ninguém a deixar de fumar, até porque em última análise estamos a falar de uma droga legal e da liberdade de cada um. Se bem que a liberdade de fumar se cruza com a liberdade de não ter de apanhar com os fumos de outrem. Volto por isso a frisar que é tudo (ou devia ser) uma questão de civismo.

Mas o que é que isto tem a ver com um blog que se afirma de todos os livros e de todas as letras? Tem precisamente a ver com as letras que têm surgido a lume na imprensa dos últimos dias contra a nova lei do tabaco, parece que ela própria minada de cancro logo à partida. E tem a ver com a diferença entre a escrita elegante e eloquente de Nuno Brederode Santos e o terrorismo institucionalizado segundo Miguel Sousa Tavares. Leia-se e perceba-se a diferença entre um bom viciado e um mau viciado.


Os Malefícios do Tabaco / Nuno Brederode Santos

A última coisa que apetece a um fumador pachola e contentinho, com quase meio século de cadastro e dois restinhos de pulmão ao seu dispor, é ver convertida em polémica filosófica e motivo de apaixonadas doutrinas a pequenina e mecânica pulsão de puxar por um rolinho de papel, entalá-lo entre os lábios e chegar-lhe um fósforo. Olhando para trás, não tenho o remorso do crime hediondo, premeditado a frio e na minúcia, com o tresloucado objectivo de extinguir os meus contemporâneos e de me apossar das riquezas do mundo, para meu mando e desmando. Não. Vejo mais um puto que foi ao café antes de tempo e que, por entre a curiosidade e a propensão para partilhar as liturgias conviviais, se foi habituando a meter lufadas de calor nas entranhas e a achar que, ao expeli-lo, os argumentos saíam muito mais inteligentes. E, afinal, o Hemingway fazia-o, o Albert Camus também e o Bogart, esse então, era inimaginável sem o cigarro na boca. Eu não via então no tabagismo uma vocação de raça ou tribo, princípio ou credo, confraria ou partido. E o mesmo sucedia com a maioria dos meus amigos, que o curso da vida iria levando a abdicar do cigarro (ou do charuto ou do cachimbo) ao ritmo dos sustos que a saúde lhes foi pregando. Retardatário, eu aguardo ainda o meu, numa qualquer esquina que bem pode ser a próxima. Mas ainda não me apeteceu empenhar as energias - que tudo na vida requer e para tudo na vida fazem falta - na abdicação de um pequeno prazer, mesmo que feito de mero hábito e auto-sugestão.

Sei que é um vício e gosto dele: como a personagem do Wilde, resisto a tudo menos à tentação. Não me imagino, por isto, herói nem mártir. Não me pinto vítima, nem resistente. Enuncio o mais rudimentar dos porque-sins da vida quotidiana, convencido, como sempre estive, de que é nela que a felicidade se joga. E sobre esta matéria, é o que tenho para dizer ao jovem médico que vi na televisão e que, de tão louro, imberbe e feroz no discurso sanitário de apuramento da raça, me fez evocar os netos das experiências do Dr. Mengele. E aos comissários europeus politicamente excedentários, que precisam de mostrar que o seu pelouro existe, para o que se dedicam a infernizar o nosso quotidiano com minúcias em papel timbrado e um puritanismo a que chamam rigor. E também aos deputados que deixaram a lei pendente de regulamentação, sem proclamar, preto no branco, que a mesma condicionava a aplicação do diploma (não porque tal fosse tecnicamente necessário, mas porque, como a experiência ensina e a prática deste início do ano comprova, era politicamente necessário). E ao Governo e todas as instâncias que objectivamente jogam com a falta de regulamentação para levar a incerteza e o medo dos comerciantes a instalar uma situação que não é a que a lei contempla e prevê.

Porque a questão que coloco é muito simples: o legislador tem de assumir a sua lei e as suas consequências. E se a lei suscita dúvidas de interpretação - talvez precisamente por não ter sido regulamentada, nos termos em que foi anunciado - não me interessam nada as interpretações da Direcção-Geral da Saúde ou da ASAE, entidades a que não compete nem uma interpretação autêntica nem a regulamentação da lei. Pelo que os seus facultativos contributos não valem mais do que o mérito técnico que tiverem - tal como as minhas e as de qualquer paisano, fumador ou não. Pois, para além da técnica, o que está aqui em jogo é uma dimensão de liberdade individual - e, dessa, ninguém sabe tanto como o indivíduo que é dela titular.

O inaceitável é a fuga às responsabilidades. É despejar o ónus de uma aplicação maximalista da lei sobre os atarantados donos de pequenos restaurantes que, querendo optar por fumadores ou apetrechar-se para áreas com e sem fumo, têm medo de o fazer segundo a sua própria leitura do diploma e virem depois a perder o investimento realizado. Isto é uma espécie de "por agora, isto é o maximalismo irlandês, mas o brando Portugal já aí vem" (com a regulamentação). Se a lei é a que foi votada, regulamente-se e cumpra-se "como nela se contém". Se é para endurecer, que volte ao Parlamento e dê a cara. Sob as leis de Atenas, não deve haver vida espartana.


2008: ano do terror / Miguel Sousa Tavares

Bem-vindo ao ano de 2008 e a um país onde o terror passou a ser lei e o Estado democrático e republicano foi substituído por um Estado policial onde a totalidade dos cidadãos assume a condição de vigilantes da lei e da virtude e a totalidade das forças policiais estão mobilizadas para acorrer a todo o lado e reprimir na hora os prevaricadores dos bons costumes. Havia a Arábia Saudita, o Irão e os Estados Unidos. Agora há mais um país oficialmente fundamentalista: Portugal.

Com a entrada em vigor da famigerada Lei 37/07 - a lei antitabagismo -, passa a vigorar entre nós uma lei do terror e o país reencontra-se com a sua velha vocação de proibicionismo, delação e repressão dos direitos individuais. Tudo para perseguir um vício que, note-se, é, todavia, legal e fomentado pelo próprio Estado. O Estado financia, com dinheiros europeus, o cultivo de tabaco; o Estado produz e comercializa cigarros, em regime de quase monopólio, através da empresa pública Tabaqueira; o Estado taxa, de seguida, a venda de cigarros (que ele próprio promove), constituindo essa uma das suas principais fontes de receita. E, no fim do processo, o mesmo Estado, movido pela nobre intenção de defender a saúde pública, decreta que quem fuma deve ser perseguido, denunciado e multado em todo o lado. Qualquer "dealer" de drogas duras tem mais credibilidade moral do que o Estado português. Nem os "dealers" de heroína perseguem os clientes nem o Governo da Arábia Saudita promove a venda de álcool aos fiéis a quem proíbe beber.

Tardámos, mas, nestas coisas do politicamente correcto, quando avançamos é a matar. Sobretudo se tudo o que se exige aos governos é que proíbam e multem. Nenhum país do mundo (excepção feita aos Estados Unidos, em alguns Estados) foi tão longe em matéria de perseguição aos fumadores - mas também se compreende, visto que eles são os maiores produtores mundiais de tabaco e, se o proibissem, levariam à ruína e ao desemprego milhões de agricultores e trabalhadores das tabaqueiras. Neste campo, quanto maior é a culpa maior é a hipocrisia.

Ao abrigo da Lei 37/07, nenhum trabalhador, mesmo que a sós no seu gabinete de trabalho e sem contacto com outros, vai poder fumar; o engenheiro José Sócrates vai ter de ir fumar para os jardins de São Bento, porque lá dentro está num edifício de um órgão de soberania; um velhinho, internado para morrer num lar e cujo derradeiro prazer seja o cigarro, não o vai poder fumar porque chamam a polícia; um preso pode pedir uma seringa nova numa prisão para injectar droga, mas não vai poder fumar, excepto no recreio ao ar livre; em locais como a Feira da Golegã, a Fatacil, a Ovibeja ou a Feira da Ladra, mesmo ao ar livre, não se vai poder fumar, porque são recintos de feira; nas praças de touros não se vai poder fumar, porque são recintos de espectáculos; o faroleiro do Bugio ou o guarda-linha da CP, mesmo na solidão absoluta das suas moradas, não vão poder fumar, porque estão em instalações do Estado; pela mesma razão, nem sequer o embaixador vai poder fumar, nas várias embaixadas de Portugal espalhadas pelo Mundo; não se vai poder fumar nos quartéis, nos navios da Armada, nas estações e gares de comboios e barcos, nos aeroportos, em todos os ministérios e repartições públicas, nos hospitais e centros de saúde, nas Pousadas de Portugal e em todos os hotéis que o decidam, em todos os espectáculos, excepto nas zonas ao ar livre dos estádios de futebol (à excepção do camarote presidencial do Benfica e do FC Porto). Mas, resumindo: como não se pode fumar em nenhum local de trabalho nem de atendimento ao público, as quarenta e tal proibições da Lei 37/07 tornam-se inúteis e, com um legislador menos incapaz, ter-se-iam reduzido a uma simples formulação: é proibido fumar em todo o lado, excepto ao ar livre e dentro do transporte individual ou da casa de cada um. Ressalvando, todavia, que, mesmo ao ar livre, há casos de proibição na lei e que, mesmo em casa de cada um, nada exclui que, tal como previsto na lei, "por determinação da gerência" do condomínio, se possa proibir o fumo em todo o prédio.

Só alguém com sérios problemas mentais poderia ter feito esta lei. E só uma Assembleia de deputados incompetentes e sem coragem nem vontade própria a poderia ter aprovado. É uma lei à medida de um país de polícias e de eunucos. Chamada a resolver uma situação em que se tratava de proteger os não-fumadores do fumo passivo, obrigando à criação de áreas específicas para fumadores, o legislador não esteve com meias medidas e quis lá saber se os fumadores tinham ou não alguns direitos também. A regra foi proibir quase sempre e em todo o lado e, quando misericordiosamente entreabriu algumas portas (como no caso dos bares e restaurantes), determinou tamanhas exigências técnicas que a tradicional lei do menor esforço e a falta de profissionalismo em vigor no sector se encarregaram de chegar à solução mais fácil: que vão fumar para a rua e é enquanto podem.

Já andam para aí alguns zelotas preocupados em que a lei possa não ser cumprida em todo o seu rigor. E alguns descendentes mentais dos antigos 'bufos' da PIDE já se encarregaram de telefonar à polícia a denunciar fumadores. E a polícia lá acorreu, pressurosa, para reprimir à nascença a difusão deste odioso crime - que é o único não previsto no Código Penal e fomentado pelo Estado.

E lá, do seu pedestal onde figura como Torquemada ou Elliot Ness da Reboleira, de crachá pendente do cinto das calças e ar ameaçador (vide revista 'Tabu' do último sábado), já afia o dente António Nunes, o presidente dessa nova polícia chamada ASAE, cujos agentes se apresentam de camuflado negro e em estilo de brigada antiterrorista para inspeccionar restaurantes e cafés do país e agora mobilizada para o combate a este novo crime.

A lei, aliás, parece feita de encomenda para o senhor da ASAE. O homem que promete acabar de vez com as bolas de Berlim nas praias, os pastéis de bacalhau nas tascas e os doces de fabrico caseiro nos cafés, que jura guerra às colheres de pau nas cozinhas e que promove um mundo totalmente plastificado - colheres, copos, luvas, embalagens para tudo - e que suspira filosoficamente que a "dura lex, sed lex" o vai obrigar a fechar metade dos restaurantes do país, não podia ser mais adequado a esta nobre tarefa de perseguir os fumadores em todas as feiras, chafaricas e recantos do país profundo. (Na Irlanda - esse país que ainda há poucos anos perseguia os 'infiéis' não-católicos como emissários do demónio -, a perseguição aos fumadores desencadeada pela ASAE local levou já ao fecho de 11 mil "pubs" de província, de acordo com o lema "acabamos com os fumadores nem que tenhamos de acabar com a vida no interior!") Um bom exemplo para Portugal.

Sosseguem, pois, os "ayatollahs" de serviço por aqui: temos a ASAE e o seu exército de camisas negras com as narinas devidamente treinadas para cheirar qualquer resquício de fumo a léguas de distância. E temos os eternos 'bufos' disponíveis para denunciar nem que seja o velhote que há anos se senta na mesma mesa da tasca do bairro para jogar dominó com os amigos e acender um cigarro para queimar o frio e a tristeza. A tristeza por viver num país onde se respeita tão pouco a liberdade dos outros.

Directory of Books Blogs Blog Directory Add to Technorati Favorites