quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ler com o Sr. Luís #4

SER LIVREIRO HOJE

O que é que mudou na actividade de livreiro desde que começou até agora?

Houve grandes modificações com a televisão, a multimedia... Mas eu continuo a acreditar na livraria, porque apesar das tecnologias, e talvez se vendam menos livros, a livraria há de continuar a ser sempre livraria. Ouvir a gravação de um livro, ou ler num computador é totalmente diferente do contacto com o papel. O que dá prazer é manusear o livro. Pô-lo na prateleira e relê-lo daí a um mês ou um ano. Esta é a minha maneira de ver as coisas e é possível que eu esteja errado. Além disso, há a especialização. Com as grandes superfícies e toda a concorrência que há, as livrarias têm cada vez mais a tendência para se especializarem em determinadas áreas.

Falando da actualidade, também é da opinião que os portugueses lêem cada vez menos?
Não. Eu acho que lêem mais. Este ano foi melhor que o ano passado e assim sucessivamente.

Mas isso deve-se também a alguns fenómenos tipo Paulo Coelho...
... o Paulo Coelho, o Saramago, o Lobo Antunes...

Mas acha que as pessoas compram livros para pôr na prateleira, ou para ler?
Eu acredito que é metade/metade. Eu continuo a dizer que nós temos uns clássicos muito bons que continuam a ser esquecidos pelos editores, porque o editor quer o lucro imediato. A Imprensa Nacional Casa da Moeda devia pegar nesses clássicos portugueses e editá-los todos, porque são necessários. Com prefácios e estudos dos livros.

Como por exemplo?
O Camilo e outros grandes escritores: o Garrett... O Camilo está praticamente reduzido a 4 ou 5 livros. Não entra no mercado. E do Eça só saiu muita coisa porque o ano passado foi o centenário.

Continua a ser-lhe possível viver dos livros economicamente?
Sim, felizmente. Desde que aqui estou há 30 anos.

Isso também terá a ver com uma certa fidelização que conseguiu dos leitores, pelo menos os de Campo de Ourique?
Sim. Não há dúvida. Um dia que me sinta cansado, velho, caduco, terei que me afastar. Há de chegar a altura. Mas por enquanto ainda me sinto uma pessoa válida.

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