segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Duas leituras políticas obrigatórias

Estes últimos dias voltei às minhas leituras político-históricas, uma área à qual volto sempre. ou da qual nunca sequer saio. A ocasião deste regresso prende-se com duas edições recentes, uma no formato livro e outra no formato revista.

O primeiro é a “História da Pide” de Irene Pimentel, um livro que já se tornava cada vez mais urgente e que ainda bem que saiu pela pena desta autora, uma das mais profícuas e interessantes na História da nossa contemporaneidade. Ainda não me aventurei nas muitas páginas do livro, mas ele é sem dúvida uma excelente mais valia para juntar à minha recolha de textos sobre a polícia política do Estado Novo. Saúda-se ainda a pretensão da autora em realizar uma série documental para a televisão sobre o mesmo tema, uma tarefa hercúlea, se pensarmos no curto espaço de tempo que ainda nos separa do fenómeno, no peso emocional que este tema arrasta e nos muitos pides e informadores envolvidos que ainda se escondem na escuridão do anonimato. Não se saúda (para variar) os media nacionais e todos aqueles que não percebem que para fazer este tipo de estudo é fundamental escolher uma de muitas abordagens possíveis e manter um distanciamento científico - a única coisa que ouvi referirem sobre o livro, à laia de total falta de esclarecimento, foi o facto da autora ter concluído em termos estatísticos que a Pide foi menos torcinária que as suas congéneres europeias, o que não significa, como a própria autora reforça, que tenha sido menos aterradora. Enfim, polémicas à parte, estamos perante um documento tão essencial para as gerações actuais e vindouras compreenderem a nossa história mais recente como a série sobre a Guerra Colonial que actualmente está a ser transmitida na RTP.

A segunda edição que trago aqui é o canto do cisne da Revista História, que afinal parece que poderá não ser assim tanto um canto de cisne, porque poderá haver novidades já no início de 2008 (a acompanhar no site oficial da revista , o qual neste momento deixa muito a desejar). Para já fiquemos com esta edição especial da História, acabada de sair para as bancas e dedicada aos 90 anos da Revolução Soviética de 1917. Poder-se-á dizer que editorialmente os conteúdos denotam uma orientação mais de esquerda dos seus autores (sem conotações pejorativas), que se nota logo na afirmação algo determinista do primeiro artigo da autoria de Valério Arcary, segundo o qual “Outubro foi a revolução que mudou o mundo”. Mas não é com certeza por isso que esta edição especial da revista História deixa de apresentar um conjunto de artigos e entrevistas que nos ajudam comprender, de uma forma geral, mas muito assertiva, este fenómeno tão central como efémero, e tão esperançoso como tenebroso, da História do Séc. XX, tornando-a assim uma aquisição obrigatória.

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