sábado, 27 de outubro de 2007

A Arte de Ser Pascoaes


Teixeira de Pascoaes (1877-1952) foi um dos líderes do movimento da “Renascença Portuguesa” com Raul Proença e António Sérgio. Hoje é considerado um dos maiores escritores e pensadores da portugalidade, que nunca precisou de sair da sua Amarante natal para poder dali contemplar apaixonadamente Portugal e o mundo.

“Arte de Ser Português”, o primeiro livro de prosa de Pascoaes (e também a minha primeira leitura deste autor), então com 38 anos (1915), foi alvo de recente edição na colecção de livros de bolso Biblioteca Editores Independentes (Assírio & Alvim, Livros Cotovia e Relógio d’Água), de acordo com a edição revista e aumentada pelo autor em 1920.

Trata-se de um pequeno livro com alma de épico, que Teixeira de Pascoaes escreveu como uma sincera e genuína contribuição para melhor compreender o que é isso de ser português, na forma de um curso tão curto como intenso, que nunca teve o eco que o autor almejou.

“Arte de Ser Português” transforma-se assim numa dissertação sobre um país com a «saudade» como palavra/conceito/filosofia que melhor define a alma pátria: “a saudade, no mais alto sentido, significa a divina tendência do português para Deus; na sua expressão decadente, patológica, representa a tendência do português para o fantasma...”.

Um país encurralado no cruzamento entre o cristão e o pagão: “Deus e o Demónio são incompatíveis em toda a parte, excepto em Portugal”.

Um país banhado por qualidades como o génio da aventura, o espírito messiânico - de que o sebastianismo é o expoente maior - e o sentimento de independência e liberdade. Mas sobretudo inundado por defeitos como a falta de persistência, a vil tristeza, a inveja, a vaidade susceptível, a intolerância e o espírito de imitação.

Um país orientado para o passado e não para o futuro, que continua envolto na névoa sebastiânica: “elevamos quimericamente as pequenas coisas de hoje à grande altura das antigas. Fingimos a grandeza e o mérito perdidos. Representamos, enfim, o nosso Drama de sombras, que dá um pouco a vida humana depois da Queda...”.

Um livro que salienta alguns traços que continuam a ser indelevelmente visíveis no Portugal dos nossos dias (questão recorrente em todos os escritores portugueses que se debruçaram sobre a portugalidade em qualquer um dos nossos 8 séculos de História), e com algumas apreciações que à luz de hoje poderiam ser lidas como nacionalistas e até racistas (sobretudo tendo em conta que houve a 2ª Guerra Mundial pelo meio), mas que devem ser compreendidas no contexto da época em que foram escritas e na pena de quem partiram. A pena de Teixeira de Pascoaes. Nem monárquico, nem republicano, profundamente português. Descendente directo do Cancioneiro Popular e de Camões. A alma pátria personificada.

“Arte de Ser Português” tem tudo para ser uma leitura e uma compra obrigatória, até porque não custa mais de 4,50 euros. Inteiramente de graça, nos próximos dias vai ser possível ler aqui no Todos os Livros alguns princípios enunciados por Teixeira de Pascoaes neste pequeno grande livro.

Aos portugueses interessados, aceitam-se a agradecem-se comentários e adendas aos trechos que irei postar, porque a arte de ser português também é nossa, quer queiramos ou não.

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