domingo, 5 de agosto de 2007

Filosofia para o Verão


Depois de no último post ter indicado a minha lista de livros para as férias que já começaram, mas ainda não descolaram de Lisboa, aproveito para deixar algumas citações de um dos mais brilhantes livros que li até hoje: “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, tão obrigatório, ou ainda mais, que os Maias do nosso Eça.

Poderia estender-me aqui longamente sobre as virtudes deste romance. Mas não sou crítico, nem a isso aspiro. Sou simplesmente um aficcionado da arte de bem escrever em português. E quando essa leitura me apresenta a melhor filosofia de vida num romance impossível de parar de ler, recheado (a cada canto de página) daquele humor com que só os brasileiros nos sabem (en)cantar, e inspirado por uma técnica a que muito poucos dos nossos contemporâneos podem sequer aspirar (recordo que o livro foi escrito em 1880), estamos perante uma obra-prima.

E quando um livro nos dá tantas citações, para quê sujar este post com mais conversa? Deixo-vos com Machado de Assis. Ou será com Brás Cubas? A certa altura confesso que já não sei quem realmente está a escrever... Mais um pormenor de génio... Aqui ficam outros para mergulhar neste Verão:

“Suporta-se com paciência a cólica do próximo”

“Matamos o tempo; o tempo nos enterra”.

“A pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não para nunca: acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la”.

“Um grãozinho de sandice, longe de fazer mal, dava certo pico à vida”.

“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. (...) Somadas umas cousas e outras, quelquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

Concluo eu: como é que um final tão negativo nos leva a dizer sins apaixonados a cada página deste livro? Basta ler...

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