sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Livros da Minha Vida - "Todos os Nomes" de José Saramago


Serve esta secção para abrir as páginas de alguns dos milhares de livros que já marcaram a minha vida até à data (e ainda faltam tantos...). Tinha de começar pelo livro cujo título serviu de inspiração para o nome deste blog: "Todos os Nomes" de José Saramago. E também porque me apeteceu começar com um autor que, apesar de ser o único Nobel português da literatura (injustiça de facto para tantos outros, entre eles Pessoa ou Torga, mas não para Saramago), continua a ser uma personagem não muito querida em Portugal. Como eu não gosto de confundir personalidade com qualidade (que personagem execrável que foi Céline e que maravilhoso é a sua "Viagem ao Fim da Noite"...), tenho de afirmar que gosto, e muito, dos livros de Saramago. Gosto da forma como ele escreve e como demonstra que a pontuação é feita por quem lê e não necessariamente por quem escreve. Gosto dos temas universais que aborda de uma perspectiva por vezes muito microscópica (aliás acho que é este universalismo que lhe vale o prémio Nobel). Gosto da força cinematográfica com que expõe as suas ideias. Gosto porque acho que os livros dele são muito mais acessíveis do que muitos pensam. Gosto por ser um autor de quem muita gente não gosta. Gosto mais de “Ensaio Sobre a Cegueira”, de “As Intermitências da Morte” e de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, provavelmente o Saramago mais brilhante, e menos de “Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Ensaio Sobre a Lucidez”, mas gosto particularmente de "Todos os Nomes", provavelmente por ser, ou parecer, Saramago no seu mais kafkiano: um funcionário do Arquivo do Registo Civil que um dia começa a coleccionar dados pessoais sobre as pessoas que constam nas fichas do arquivo. Mas há uma ficha de uma mulher que o deixa intrigado ao ponto de ter de saber tudo sobre a vida dela (este determinismo é brilhantemente Kafka). O livro trata assim da busca de uma mulher sem nome por parte de um homem solitário (mais universal que isto é impossível). Momentos altos de “Todos os Nomes” são a descrição labiríntica do arquivo e toda a sequência expressionista do cemitério, ambas do mais inspirado que a língua portuguesa conheceu na pena de Saramago. E já que parece que o “Ensaio Sobre a Cegueira” vai dar filme de Fernando Meirelles (estou muito curioso), porque não um filme de “Todos os Nomes”. Os ingredientes estão todos lá. Quem sabe um filme de Tim Burton?

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