quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O Fim da Historia?

Esta semana, como acontece todos os meses, recebi na caixa do correio a edição mensal da revista História, correspondente à assinatura que mantenho há já alguns anos, desde ainda a segunda série.

O que é que este facto tem de extraordinário? Antes de mais porque este foi o número 100 da terceira série de uma revista que já anda por aí, com altos, baixos e outros sobressaltos, para mais de 30 anos e que faz parte da minha história de vida desde os tempos em que o meu pai a comprava regularmente. Depois porque é um raro exemplo de atenção a uma das mais fascinantes disciplinas das ciênciais sociais e com particular pendor para a História Contemporânea, o que é um caso ainda mais raro. Mas sobretudo porque, e para espanto meu, o primeiro artigo deste número 100 avança com a constatação de que a História (mais uma vez) vai acabar. E parece que mais uma vez por dificuldades financeiras. Nas palavras do director-adjunto Luís Farinha, «foram-nos retirados dois apoios oficiais fundamentais para uma pequena publicação como a nossa, nomeadamente do ex-Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (actual Direcção-Geral do Livro e da Leitura) e o fim do Porte Pago».

Confesso que andava desgostoso com as mais recentes edições, sobretudo em termos gráficos, que perderam muito charme e contemporaneidade face aos primeiros números desta terceira série, ao ponto de estar a considerar a hipótese de deixar de assinar a revista. Contudo, deixar morrer uma publicação com tanta história por estas razões é triste. Curiosamente, o último (?) suspiro da História vai ser com uma edição especial dedicada à Revoluçaõ Russa de 1917. Poderá o tema ser lido como um grito de raiva contra a situação?

Por tudo isto juntei o meu nome ao abaixo-assinado que circula na net para salvar a História. Um gesto provavelmente simbólico, mas mesmo asism deixo aqui o link para quem se quiser juntar à causa e fazer história.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Louis Riel by Chester Brown


Chester Brown é um comic artist canadiano de renome não só no seu pais, como em todo o mundo. Eu diria que é mesmo um dos maiores artistas do nosso tempo, a par de outros mestres como Chris Ware, Daniel Clowes, Charles Burns ou Seth para me ficar apenas por aqui. É o autor celebrado de grandes obras da Nona Arte como “Ed the Happy Clown”, “The Playboy: A comic book”, “I Never Liked You”, “The Little Man: Short Strips 1980-1995”.

Constantemente à procura da perfeição, a mais recente etapa no caminho de Chester Brown em direcção à excelência é “Louis Riel: A Comic-Strip Biography”, nada menos que a história de um mártir político do Canadá da segunda metade do Séc. XIX. A prova de que a banda-desenhada não pode ser desdenhada e deve ser cada vez mais assumida como aquilo que realmente é: a Nona Arte. “Louis Riel” é então acima de tudo um livro de história, mas que nos ensina de uma forma lúdica e artística, com um cuidado enorme no traço (aqui muito inspirado em Hergé) e no texto, com uma sensibilidade para o enredo brilhante e uma elegância extrema, num preto e branco incólume.

A forma como Brown cruza os aspectos mais macro da história de Riel - a revolução que lançou e a clarificação das diferenças entre as origens inglesas e francesas daquele país – e os aspectos mais micro - as angústias religiosas do homem e a fina linha que separa a loucura da genialidade – tornam a leitura desta biografia desenhada uma obsessão e uma obrigação.

Não admira que tenha sido considerado pela Time uma das melhores obras de 2003 e tenha sido candidato ao prestigiado Eisner Award em 2004.

A edição que adquiri foi a espanhola (Ediciones La Cupula- onde se trata a banda desenhada como deve ser), mas o original em inglês pode ser adquirido através da Drawn & Quarterly. Confesso que a leitura em espanhol tornou o livro ainda mais mágico.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Eu vou descascar a cebola


Vou ler a autobiografia de Gunther Grass, mas ao contrário das manchetes que mancharam os jornais do fim de semana que passou, o que menos me interessa é a polémica sobre o passado hitleriano do senhor, mas sim o texto autobiográfico (um género que me apaixona cada vez mais) do autor do "O Tambor", um escritor alemão que atravessou todo o século XX, o mais intenso (pelas piores e melhores razões) da vida do seu povo. Um texto fundamental para compreender tanto os fantasmas que assombram a vida de Grass, como os fantasmas alemães que assombraram a Europa e o Mundo.

"Descancando a Cebola" é colocado hoje à venda, pela Casa das Letras.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A vida por um monóculo vê-se melhor...


Todos os Livros, como já se viu, também inclui outras formas de leitura de qualidade, sejam elas a banda-desenhada, ou também, como é o caso que aqui trago hoje, as grandes revistas. E que grande revista descobri ontem, graças ao camarada Zé, designer de eleição que reconhece numa revista não só a genialidade do design, como também a pertinência e o poder dos conteúdos.

O que é então a Monocle? É uma mega-revista inglesa sobre "global affairs, business, culture & design", onde o conceito de cosmopolitismo encontra a sua expressão perfeita. Aqui descobrem-se tanto as grandes tendências, da globalização ao aquecimento global (e que excelente artigo sobre o problema do Ártico!), como os pequenos pormenores que tornam a vida mais interessante e saborosa: viagens, moda, oportunidades de negócio, arquitectura, música e até banda-desenhada.

O número que adquri (Setembro de 2007) tem como tema central o branding das nações, ou seja, a importância e a necessidade cada vez maior dos países em criarem uma imagem de marca forte e coerente. Partindo desta ideia central, a Monocle dá-nos um panorama aprofundado sobre o tema, com vários "case studies", artigos de fundo, entrevistas, pessoas, ideias e exemplos a seguir. É ler e ver o que Portugal está a perder...

É isto que faz da Monocle uma revista de culto, extremamente focada (como o próprio nome indicia), para coleccionar e guardar na prateleira preferida, ou mesmo na mesa de cabeceira, e voltar sempre que for preciso abrir os olhos e a mente à percepção do que o nosso mundo é, vai ser e deve ser. Uma revista do mundo à venda nas melhores papelarias (a minha descobri-a no Dolce Vita de Miraflores, mas acho que era a última...).

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Nan Goldin "The Ballad of Sexual Dependency"

Este fim de semana tive a felicidade de encontrar (e adquirir) na Almedina da Gulbenkian o genial livro de fotografia de Nan Goldin, "The Ballad of Sexual Dependency", cujo slideshow apresento aqui para o deleite de todos os que vibram com a fotografia que é muito mais do que estética. A fotografia que fala da vida como ela é. A fotografia ao mesmo tempo hiper-realista e ultra-intimista. A fotografia que tanto invoca como espanta os fantasmas que assombram e alegram o dia-a-dia. A fotografia que provoca todo o tipo de sensações, desde o virar dos olhos em repulsa até ao sorriso que surge nos lábios. A fotografia que é a extensão mais natural e verdadeira do seu autor e não um mero acto distanciado e indiferente. A fotografia que também se lê, porque apresenta a leitura autobiográfica da vida da sua autora em imagens. E que vida. E que leitura. E que fotografias.


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