domingo, 23 de dezembro de 2007

Don Delillo II



“Estes são os dias do depois. Tudo agora se mede em depois”.

Esta frase resume a mais recente obra de Don Delillo, “O Homem em Queda”, e o meu primeiro livro não só deste autor como também sobre a temática do 11 de Setembro. E esta frase torna-se ainda mais tumular porque nunca me tinha apercebido até que ponto o 11 de Setembro foi de facto um marco que os americanos vão demorar muito tempo a ultrapassar. Em “O Homem em Queda” percebe-se que realmente nos EUA existe um pré e um pós 11 de Setembro e que a partir deste momento definidor nada será como dantes.

Para nos conduzir a esta constatação estrutural, Delillo propõe-nos uma história centrada sobretudo na vida de 4 indivíduos: um sobrevivente do atentado que estava numa das torres no momento do impacto; a ex-mulher dele e o reencontro de ambos um com o outro e consigo próprios; um dos responsáveis pela catástrofe, as suas motivações e a sua viagem para a morte dentro do avião; um homem-estátua em queda permanente e nos locais mais imprevisíveis, que não deixa ninguém esquecer as pessoas que caíriam e/ou saltaram das Torres para a morte certa.

Uma história metafísica sobre as obsessões destas pessoas (que são o espelho de todas as outras) e como o 11 de Setembro ao mesmo tempo alterou e clarificou tudo. Uma história existencialista, que transpira Kierkegaard por todos os poros, sobre as introspecções, as memórias passadas e futuras e os sofrimentos das suas personagens. “Kierkegaard proporcionava-lhe uma sensação de perigo, de estar à beira de um abismo espiritual. Toda a existência me assusta, escreveu ele. Ela revia-se nesta frase”. E o livro também. Por isso é que o seu fascínio reside em perceber como é que toda a existência se reflecte em quatro personagens e uma catástrofe.

O prazer de descobrir um dos maiores escritores americanos vivos lançou-me de imediato para um segundo Don Delillo, um livro que já há muitos anos estava à espera da minha leitura numa prateleira escondida lá de casa: “Mao II”. Apesar dos 16 anos que separam as duas obras, mal deixei entrar as primeiras letras e descobri uma ponte entre os dois livros - as torres que caem em “O Homem em queda” (2007) e as torres que nascem em “Mao II” (1991) - senti uma estranha sensação de estar em casa. Novamente as obsessões, o foco em personagens perturbadas que parecem ter sempre algo escondido por revelar. Mas desta feita estamos perante o encontro entre um escritor que se torna cada vez mais famoso à medida que passa o tempo sem dar a cara em público e sern escrever nada, e uma fotógrafa cada vez mais famosa por se dedicar a fotografar escritores e que consegue fotografar o escritor desaparecido. O enredo está lançado mas o fim fica para outro post. De qualquer maneira, bem vindo Don Delillo ao meu mundo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Porque o Natal assim tem muito mais graça

O Que Fizeram do Natal
(Carlos Drummond de Andrade)


Natal.
O sino longe toca fino,
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o deus menino.
As beatas foram ver,
encontraram o coitadinho
mais o boi mais o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.
As beatas ajoelharam
e adoraram o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os namorados das filhas,
foram dançar black-bottom
nos clubes sem presépio.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Para acabar de vez com a sacralização do Natal

Chove. É dia de Natal
(Fernando Pessoa)

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

I Believe!

"The Believer is a monthly magazine where length is no object. There are book reviews that are not necessarily timely, and that are very often very long. There are interviews that are also very long. We will focus on writers and books we like. We will give people and books the benefit of the doubt. The working title of this magazine was The Optimist". Para além deste sugestivo manifesto de intenções esta revista é ilustrada por artistas como Charles Burns e Tony Millionaire.

Mandei vir um número pela Net para experimentar, mas será que alguém sabe onde é possível (e se é possível) encontrá-la à venda em Lisboa? Eu encontrei-a aqui .

Monocle 2008

Já me chegou às mãos o novo número da cosmopolita Monocle, um especial sobre aquilo que podemos esperar em 2008, com os conteúdos incisivos e o melhor design editorial a que a revista já me habituou. Imprescindível . Aconselha-se particular atenção ao excelente artigo sobre o canal Arte, que ensina como saber fazer boa televisão, tema fundamental em Portugal.

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